6 de janeiro de 2007

Conto

A hora marcada

Já passava da hora marcada quando olhou o relógio. Havia se preparado como nunca, vestiu sua melhor roupa, penteou cuidadosamente os cabelos e passou um pouco do perfume francês dado pela mãe anos antes. Só usava aquele perfume em ocasiões muito especiais.

Um jovem rapaz na flor da idade, alto, musculoso, com belos cabelos negros e lisos, Henrique era o melhor partido da pequena cidade onde morava, disputado por todas as garotas. Estava um pouco atrasado, mas dez minutos não atrapalhariam seus planos, chegaria a tempo. Saiu de casa apressado, entrou em seu pequeno carro e se dirigiu para aquele que, ele esperava, seria um grande dia.

O dia era especial, pois se encontraria com Marina, a garota de seus sonhos. No meio de tantas pretendentes, ela era a única que se destacava. Não tinha nada muito diferente das demais, porém, era a única de quem Henrique gostava. Para que esse dia chegasse, ele lutou muito. Ela parecia não ligar muito pra ele, não dava atenção, e talvez tenha sido isso que o fez insistir. Enfim, marcaram o dia. Sairiam para tomar sorvete no pequeno shopping que acabara de ser inaugurado naquela cidade, onde ainda não havia nem uma salinha de cinema sequer. “Apenas para conversar”, foi seu argumento para convencê-la a ir.

Marina não quis que ele a buscasse em casa. Afirmou que jamais esqueceria o encontro, e que estaria lá na hora combinada. Henrique ficou feliz com a atenção dada por ela, mas à medida que o tempo passava e Marina não chegava, sua animação e confiança começou a dar lugar a uma dolorosa insegurança.

- Acho que ela não vem mais, falou consigo mesmo. E já se levantava da mesa, quando encontrou Rodrigo, um grande amigo.

- A Marina? Uma morena, baixinha? Acabei de vê-la aqui no shopping, conversando com um homem...

Henrique não acreditou no que tinha acabado de ouvir. Marina marcou um encontro com ele, mas na verdade estava com outro. Se isso realmente fosse verdade, todo seu esforço para que aquele dia acontecesse teria sido em vão.

Cansado de esperar, e inconformado com a notícia que acabara de receber do amigo, Henrique quis ir para casa o mais rápido possível, e um frio correu toda a sua espinha só de pensar na possibilidade de ver a amada andando pelo shopping com outro homem. Quando passava pela porta da saída, a voz de Marina chegou aos seus ouvidos, e o nervosismo que tomava conta de seu corpo tornou o grito mais agudo do que realmente era. Virou-se para trás e viu o que mais temia. Marina, ao lado de um rapaz vistoso, que aparentava ter a mesma idade que eles.

- Henrique! Exclamou. O jovem rapaz que a acompanhava cochichou algo em seu ouvido, a moça então fez sinal positivo com a cabeça e ele saiu em direção ao quiosque de sorvetes que ficava a uns dez metros dali. Marina aproximou-se, e continuou: Tentei falar com você ontem, mas não consegui... Gostaria de te apresentar Fábio, um antigo amigo que está de passagem pela cidade.

Olhou desdenhosamente o tal amigo, que agora comprava dois sorvetes enormes; talvez invejando sua posição ao lado da moça de quem gostava. A posição onde ele queria estar.

Muito animada, a garota continuou falando. - Achei que você não se importaria de desmarcar nosso sorvete, dizia - Fábio vai embora em dois dias, e eu precisava revê-lo. Pensei em marcar nosso encontro para outro dia, mas meus planos agora são outros. Vou me mudar, morar na cidade dele!

O belo rapaz sentiu-se tomado por uma inexplicável raiva. Ficou sem saber como reagir diante daquela situação. Uma tempestade de idéias tomou conta de sua mente, mas Henrique preferiu sair logo dali, antes de ter que ver a cena do casal tomando sorvete juntos. Havia sido trocado por Marina, sem ao menos ter a chance de demonstrar merecer seu afeto.

Já anoitecia. Na estreita estrada de mão dupla do caminho de volta para casa, não havia nenhum outro carro além do de Henrique. Ele ainda não acreditava na história sem pé nem cabeça que acabara de vir, mas começava a se acalmar. De repente, um grande caminhão surge em sua frente. Os faróis emitem uma forte luz branca, que toma conta de sua visão.

Henrique abre os olhos. Seu irmão mais novo estava brincando com a lanterna do pai, e achou de apontá-la para seus olhos, tentando acordá-lo. Estava no sofá da sala de sua casa. Lembrou-se do encontro com Marina e olhou em direção ao relógio de parede. Já passava da hora marcada.


Texto escrito em Junho de 2006 para a disciplina Oficina de Texto. =)

2 comentários :

Anônimo disse...

amigaa... amei o texto!

vou passar por aqui sempre!

saudades!

=*

Paola disse...

Não sabia que você tinha blog! Adoro blogs.
Vou salvar no meus favs.
Atualize-o.

Beijinhos. =***

É a Paola aqui. xD