7 de abril de 2011

um desabafo no dia do jornalista...

Talvez o pior pesadelo de um jornalista seja ter que cobrir grandes tragédias. O problema não é a correria, ou o excesso de trabalho que certamente aparece quando acontecem essas coisas. Isso qualquer um que está em redação enfrenta, todos os dias. O mais difícil é ter que abrir mão do luto e criar uma "casca" para conseguir fazer as entrevistas, correr atrás da notícia. Pode ser bom para a carreira, pode dar uma visibilidade maior do que as reportagens do dia a dia. Mas eu duvido que algum jornalista consiga entrevistar uma criança apavorada ou uma mãe que chora sem sentir um aperto no peito. No meu caso, apenas ver pela internet, tv, rádio já é suficiente para chorar. Ter que escrever então...

Nesse dia do jornalista, ser jornalista no Brasil e em Brasília foi, e está sendo, muito difícil. Além de encarar o luto, tive a tristeza de ver amigos queridos dizendo tchau para uma redação que, querendo ou não, se torna nossa segunda casa com tantas horas extras, plantões, coberturas especiais... e por aí vai. Ver uma pessoa que dedicou 20 anos da vida dela àquele lugar indo embora sem mais nem menos não é fácil. Nessa hora o alento que serve para mim, e que falei a alguns deles hoje, é que um bom profissional não fica fora do mercado. Disso eu tenho certeza.

Esse texto não diz nem metade do turbilhão de coisas ruins que senti ao longo do dia. Hoje eu não sei dizer o que é ser jornalista. Lidar com a instabilidade e - pior - o desprestígio é uma coisa que eu não sei fazer. Acho que nesse dia a única coisa que posso desejar é mais respeito a essa profissão. Jornalista é humano, tem casa pra cuidar, filhos para criar. Respeito é o mínimo que poderiam receber essas pessoas que já levam muita pancada todos os dias.

Fé e força para as famílias e crianças do Rio. Boa sorte aos meus colegas, amigos, queridos. Minhas orações e minha torcida hoje se confundem e se concentram neles.

E que o 7 de abril nos próximos anos tenha motivos para querer viver essa profissão.



"Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."
(Gabriel García Márquez)

Um comentário :

Marcus disse...

Pelo visto o desprestígio e a inconformação rondam várias profissões; ou melhor, vários momentos delas.

Cabe a nós resgatar, assim como na vida, momentos que nos façam entender porque se está trilhando o caminho, porque a estrada pela estrada não tem sentido.

Bjuz,
Marcus.