10 de maio de 2011

mais uma mentira.

Não tinham o barulho do mar, mas a luz que saía dos postes ao redor do lago se refletia na água e dava um ar especial àquela noite. Já passava das três horas da manhã e os olhos dele brilhavam. Esperara mais de um ano por aquele momento. A sensação era de que uma década havia passado sem que se encontrassem, mas o reencontro não teve formalismos de pessoas que há muito não se vêem. Tentaram mudar, mas eram os mesmos um para o outro.

A maquiagem dela estava um pouco borrada, mas para ele não importava. Estavam ali, sentados na beira da água, havia cerca de cinco horas e o tempo passara como se tivessem acabado de se reencontrar. Ela havia tirado a sapatilha dos pés e vez em quando pincelava a água doce com os dedos. Sequer sentiram que o frio aumentou com o cair da madrugada. O casaco dele a cobria e o braço direito a envolvia como se fossem feitos um para o outro. E eram mesmo, sempre que estavam juntos.

Ela relutou até o último instante para que este momento não se repetisse, mas a insistência dele e os últimos acontecimentos na sua vida a deixaram deprimida. Precisava de algo diferente. Aquele encontro não seria diferente, e ela sabia disso. Queria acreditar no contrário, não conseguia. Mas saiu de casa mesmo assim.

O beijo era o mesmo. Igualmente perfeito aos demais, desde o primeiro inesperado em uma manhã de junho, quase dois anos antes. A conversa era tão agradável quanto nos primeiros meses, com a exceção do receio dela, que agora era ainda maior. O tempo todo ela se perguntava porque tinha cedido. Mais uma vez. Perdera a conta de quanto já havia dito não, e sido convencida do contrário. Havia muita sintonia entre os dois e ela simplesmente não conseguia entender porque não ficavam juntos de vez. Ambos queriam e não queriam ao mesmo tempo.

Assistiram ao nascer do sol e passaram aquela manhã juntos, no apartamento dele em um condomínio a alguns quilômetros daquele lago. Quem olhasse de fora diria que eram recém-casados ou namorados apaixonados que não conseguem se desgrudar. Mas não gostavam dos rótulos dos relacionamentos. Separaram-se pensando que poderiam tornar aquilo rotina. Mas não, não podiam. Quando estavam juntos, tudo era muito real. Mas não passava de uma realidade que nunca sairia de seus sonhos. Despediram-se leves e tranquilos, porém tristes. Ela seguiu para casa ouvindo música no último volume e ele correra para tormar um banho e se encontrar com a noiva, que já havia ligado algumas vezes perguntando porque estava atrasado para o almoço de família.

Naquela noite de domingo, dormiram e tiveram sonhos ao mesmo tempo tão reais e tão distantes. Ele, procurando uma forma de se desprender da vida de mentiras. Ela, esperando se prender a alguém para viver de verdades.

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